Os comportamentos repetitivos e autolesivos do Jordano continuam sendo uma das maiores preocupações da família, tanto pela segurança dele quanto pelo impacto emocional sobre todos ao redor. Por isso, estudos que investigam esses comportamentos na Síndrome de Cornélia de Lange (SCdL) são ferramentas essenciais para compreender melhor o que está acontecendo.
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O artigo analisado
SRIVASTAVA, S. et al. Repetitive and Self-Injurious Behaviors in Children with Cornelia de Lange Syndrome. Journal of Autism and Developmental Disorders, 2020. Publicação vinculada a instituições como Boston Children’s Hospital, Johns Hopkins University, University of Minnesota e Yale School of Medicine. Disponível em: <https://ern-ithaca.eu/>
Do que se trata o estudo?
De forma simples, o estudo buscou entender quais comportamentos repetitivos e autolesivos aparecem em crianças com SCdL, o quanto são frequentes, quão graves podem ser e como se relacionam com o desenvolvimento da criança. Em outras palavras: o objetivo foi mapear o que essas crianças fazem, com que intensidade e como isso afeta a vida delas e das famílias.
O Desafio Principal
O estudo parte de um problema muito comum em quem tem SCdL:
➡ Por que comportamentos repetitivos (como balançar, girar, pedir coisas repetidamente) e autolesões (como bater a cabeça, morder-se, puxar cabelo) acontecem com tanta frequência?
➡ Existe relação com a idade, com a gravidade da síndrome ou com a habilidade adaptativa (capacidade de comunicação, vida diária e socialização)?
➡ E, principalmente, qual é o impacto desses comportamentos no cotidiano da criança e da família?
Essas perguntas são muito próximas da realidade de crianças como o Jordano.
Como foi realizada a pesquia?
Os pesquisadores avaliaram 50 crianças com SCdL, de 5 a 17 anos, usando entrevistas clínicas estruturadas para identificar comportamentos repetitivos, questionários comportamentais respondidos pelos pais e escalas para medir habilidades adaptativas (como comunicação, vida diária e socialização). Essas ferramentas permitiram mapear o tipo, a frequência e a intensidade dos comportamentos.
Resultados Principais
✔ 100% das crianças apresentaram algum comportamento repetitivo.
✔ 44% apresentaram autolesão (bater-se, puxar cabelo, ferir a pele etc.).
✔ 64% passam mais de 1 hora por dia realizando comportamentos repetitivos.
✔ Quanto menor a independência adaptativa, maior a chance de comportamentos repetitivos ou autolesivos.
✔ Comportamentos repetitivos fortes aumentam a chance de autolesão.
✔ Não houve relação direta com sexo, idade ou problemas gastrointestinais analisados.
✔ O estudo mostra que esses comportamentos causam sofrimento e impacto significativo para a criança e para a família.
O que nós pais precisamos saber
1. Comportamentos repetitivos são muito comuns na SCdL.
- Eles não significam “birra” ou “má vontade”; são comportamentos automáticos, muitas vezes ligados ao desenvolvimento cerebral.
2. Autolesão tem relação com comportamentos repetitivos.
- Quando estes são intensos, a chance de aparecer autolesão aumenta.
3. Habilidades adaptativas influenciam o comportamento.
- Crianças com mais dificuldades na comunicação e na rotina diária tendem a apresentar comportamentos mais intensos. Isso significa que intervenções que fortalecem comunicação e autonomia podem ajudar.
4. Os comportamentos podem gerar ansiedade.
- O estudo mostrou que muitas crianças ficam angustiadas ou frustradas quando tentam resistir ao comportamento ou quando são impedidas.
5. Intervenção precoce é fundamental.
- O estudo reforça que comportamentos repetitivos podem evoluir ao longo da infância.
- Quanto mais cedo a criança recebe suporte, melhor.
6. Existem abordagens terapêuticas específicas
- terapia ocupacional com integração sensorial.
- programas estruturados de comportamento, estratégias de substituição.
- acompanhamento médico para investigar causas físicas (dor, refluxo, constipação).
- Essas abordagens podem reduzir a frequência e intensidade dos comportamentos.
O artigo mostra, de forma clara, que comportamentos repetitivos e autolesivos são parte frequente da SCdL, mas eles não representam “culpa da família” muito menos falta de cuidado. São comportamentos profundamente ligados ao funcionamento neurológico da síndrome.
A boa notícia é que entender o padrão desses comportamentos abre portas para intervenções mais direcionadas, que podem melhorar a segurança, o bem-estar e a qualidade de vida da criança e de toda a família. A história do Jordano, bem como a de tantas outras crianças com SCdL, se beneficia diretamente desse avanço do conhecimento.
A ciência está avançando, e cada novo estudo ajuda a construir caminhos mais claros, humanos e acolhedores para que pais, profissionais e crianças caminhem juntos com mais segurança e esperança.

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