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O que revela a maior análise brasileira sobre a Síndrome de Cornélia de Lange

Olá, pessoal! Aqui é o pai do Jordano, e mais uma vez trago para o blog uma leitura que considero muito importante para todas as famílias que convivem com a Síndrome de Cornélia de Lange (SCdL).
Desta vez, analisei o artigo “Síndrome de Cornelia de Lange: análise de uma série de 33 pacientes em um centro de referência”, publicado em 2022 por Gustavo Henrique Torraca Larangeira e colaboradores, do Centro de Genética Médica José Carlos Cabral de Almeida – Instituto Fernandes Figueira (FIOCRUZ/RJ).


Do que se trata o estudo?
O trabalho analisou 33 pessoas com SCdL, desde bebês até adultos, acompanhadas em um centro brasileiro especializado em Doenças Raras.

O objetivo foi identificar:
os principais sinais clínicos, as comorbidades mais frequentes e quais alterações genéticas foram detectadas nos exames de exoma.
Além disso, os autores avaliaram o uso de um escore clínico para ajudar no diagnóstico, especialmente na distinção das formas clássicas e não clássicas da síndrome.

Principais resultados do estudo
1. Perfil dos pacientes
  • Idades entre 1 mês e 43 anos.
  • Diagnóstico geralmente precoce (média de 1 ano e 7 meses).
  • Muitos apresentaram baixo peso ao nascer e intercorrências neonatais.
2. Características físicas mais marcantes
  • Sinofris (sobrancelhas unidas) — presente em 97%.
  • Micrognatia (queixo pequeno).
  • Narinas antevertidas (voltadas para cima).
  • Boca voltada para baixo.
  • Mãos pequenas, clinodactilia (dedinho curvado) e pés pequenos.
3. Comorbidades frequentes
  • Atraso de desenvolvimento/deficiência intelectual — 87,9%.
  • Refluxo gastroesofágico (DRGE) — 72,7%.
  • Infecções de repetição, epilepsia, alterações auditivas, cardíacas e neurológicas.
  • Distúrbios comportamentais, como autoagressão, agitação e ansiedade.
4. Achados genéticos
  • Entre os pacientes testados:
  • 46% tinham variantes em NIPBL, principal gene associado à SCdL.
  • Foram encontradas variantes também em SMC1A, SMC3 e HDAC8.
  • Um caso apresentou variante no gene AHDC1, indicando Síndrome de Xia-Gibbs, que pode se parecer com SCdL.
  • Dois exames foram negativos, possivelmente por mosaicismo (quando a mutação não aparece no sangue, mas existe em outros tecidos).
Resultados que chamam atenção por destoar da literatura
  • Baixa taxa de cardiopatia (15%) — outros estudos relatam cerca de 35%.
  • Casos com fenótipo clássico e exame molecular negativo, reforçando a importância do diagnóstico clínico.
  • Classificação clínica com falhas, como pacientes que pontuaram como forma clássica mesmo sem os traços faciais típicos.
O que nós pais precisamos saber - Pontos de atenção
  1. Refluxo gastroesofágico (DRGE) é extremamente comum. Pode se manifestar como: irritação, agitação, autoagressão, bruxismo e sono irregular. DRGE não tratado aumenta o risco de pneumonias aspirativas.
  2. Atraso global do desenvolvimento - a Intervenção precoce é essencial. Inclui: fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e acompanhamento educacional.
  3. Exames são importantes mesmo que o estudo tenha encontrado menor frequência de alterações cardíacas, é recomendado: avaliação cardiológica, exames auditivos, avaliação do trato gastrointestinal e investigação de alterações urinárias e neurológicas.
  4. Cuidados em cirurgias - Micrognatia e refluxo podem exigir cautela da equipe de anestesia.
  5. Sobre os exames genéticos - um resultado negativo não exclui SCdL. Pode ser necessário coletar material de outros tecidos (pele ou mucosa oral).
A pesquisa reafirmou que a SCdL possui um conjunto típico de sinais clínicos: déficit de crescimento, traços faciais característicos, atraso de desenvolvimento, refluxo gastroesofágico e distúrbios comportamentais. No campo genético, o estudo confirma o papel central do NIPBL, e destaca variantes em outros genes associados.
Os autores reforçam que o escore clínico é uma ferramenta útil para suspeita diagnóstica e que o cuidado deve sempre ser multidisciplinar.
Concluindo, mesmo com a grande variação entre os casos, o estudo reforça que o diagnóstico precoce e o acompanhamento multidisciplinar fazem diferença real na qualidade de vida de pessoas com a Síndrome.

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