O Jordano recebeu o diagnóstico de Síndrome de Cornélia de Lange (SCdL) aos dois anos e, somente aos oito, o diagnóstico de autismo. No cotidiano, sempre foi mais simples dizer que ele era autista para facilitar a comunicação com profissionais da saúde, da educação e com as pessoas em geral. Quando se menciona a Síndrome de Cornélia de Lange, a barreira costuma ser ainda maior.
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| Jordano, 28 anos, com Síndrome de Cornélia de Lange - 23/11/25 |
Ambos os diagnósticos foram feitos de forma clínica. Nunca foram realizados exames genéticos para investigar a relação entre as duas condições, embora hoje já existam evidências científicas importantes de que mutações raras, especialmente no gene NIPBL, localizado em 5p13.2, estejam associadas à SCdL e possam contribuir para o desenvolvimento de características do espectro autista.
Para entender melhor essa relação, utilizei o ChatGPT como ferramenta de busca, leitura e interpretação de artigos científicos sobre SCdL e autismo. Como nem todos os PDFs estavam acessíveis, baseei a análise em resumos, artigos de acesso aberto e referências acadêmicas confiáveis. A partir disso, extraí os objetivos, os achados, os pontos convergentes e divergentes dos estudos, traduzindo o conteúdo técnico para uma linguagem simples. É importante destacar que as informações apresentadas devem ser interpretadas com cautela, considerando as limitações inerentes ao uso da ferramenta ChatGPT.
Artigos Científicos
1. Richards, C.; Jones, C.; Groves, L.; Moss, J.; Oliver, C. (2015). Prevalence of autism spectrum disorder phenomenology in genetic disorders. The Lancet Psychiatry, v. 2, p. 909–916.
Este estudo é uma meta-análise que reuniu dados de 168 artigos para estimar com que frequência traços do espectro autista aparecem em diferentes síndromes genéticas. Encontrou uma estimativa ponderada para a Síndrome de Cornélia de Lange em torno de 43% de “fenomenologia de TEA” (traços autísticos), mostrando que esse comportamento é significativamente mais comum do que na população geral.
2. Parisi, L.; Di Filippo, T.; Roccella, M. (2015). Behavioral phenotype and autism spectrum disorders in Cornelia de Lange syndrome. Mental Illness, v. 7, n. 2, p. 32-35.
Neste estudo de caso clínico com quatro crianças com SCdL, os autores usaram avaliações estruturadas como ADOS, ADI-R e CARS para descrever perfis de comportamento autista. Eles identificaram comportamentos repetitivos, déficits na linguagem expressiva e auto-lesão (machucar a si mesmo), sugerindo que o autismo nesta síndrome tem um padrão particular e pode exigir intervenções específicas de reabilitação.
3. Srivastava, S.; Clark, B.; Landy-Schmitt, C.; Offermann, E.A.; Kline, A.D.; Wilkinson, S.T.; Grados, M.A. (2020). Repetitive and self-injurious behaviors in children with Cornelia de Lange syndrome. Journal of Autism and Developmental Disorders.
Este estudo avaliou 50 crianças com SCdL entre 5 e 17 anos usando escalas como a Children’s Yale-Brown Obsessive Compulsive Scale modificada, o Aberrant Behavior Checklist e a Vineland Adaptive Behavior Scales. Todos apresentaram pelo menos um comportamento repetitivo (como rotação, movimentos estereotipados), 44% tinham algum tipo de auto-lesão e 64% gastavam mais de uma hora por dia com esses comportamentos. Também observaram que, quanto menor a capacidade adaptativa (habilidades de vida), mais graves são os comportamentos repetitivos e a auto-lesão.
4. Heterogeneity of Autism Characteristics in Genetic Syndromes: Key Considerations for Assessment and Support – (Revisão, autores não diretamente centrados apenas em SCdL, mas relevante) (2023).
Este artigo revisa evidências recentes sobre como os traços de autismo variam em diferentes síndromes genéticas, incluindo a Síndrome de Cornélia de Lange. Os autores destacam que características autísticas em síndromes genéticas muitas vezes têm perfis distintos do autismo “idiopático” (sem síndrome), e que as ferramentas diagnósticas tradicionais podem não ser sensíveis o bastante para capturar essas nuances. Eles recomendam avaliações adaptadas para cada síndrome e suporte especializado conforme as necessidades específicas.
5. Autism traits in children and adolescents with Cornelia de Lange syndrome – Mehta, P.; et al. (2014). Journal of Intellectual Disability Research (referência aproximada segundo abstract, verificado no PubMed)
Este estudo avaliou 41 crianças e adolescentes (5 a 18 anos) com SCdL usando a Childhood Autism Rating Scale (CARS), a Aberrant Behavior Checklist e a Vineland Adaptive Behavior Scales. Classificaram os participantes em “sem autismo”, “autismo leve” e “autismo grave” com base no CARS, encontrando que muitos apresentavam rigidez, uso peculiar de objetos, falta de comunicação verbal e repetição. Também observaram que habilidades sociais tendem a se deteriorar com a idade em relação a pessoas sem deficiência.
Linhas comuns entre os estudos
Em todos os estudos, há uma evidência clara de que traços autísticos são muito frequentes em pessoas com Síndrome de Cornélia de Lange, seja na forma de comportamentos repetitivos, déficits de linguagem ou dificuldades sociais. Também é consensual que esses traços não são exatamente os mesmos do autismo sem síndrome: eles têm características particulares ligadas à SCdL.
Convergências
- Alta prevalência de traços autísticos em SCdL (estimada em 43% na meta-análise de Richards et al.).
- Comportamentos repetitivos e auto-lesão são comuns e intensos.
- Padrão comportamental tem nuances específicas, diferentes do autismo “puro”: por exemplo, auto-agressão, impulsividade e perfil de linguagem atípico.
- A gravidade desses comportamentos se relaciona com a adaptação funcional (habilidades de vida) e possivelmente com o tipo de mutação genética.
Divergências
- As porcentagens encontradas variam entre os estudos (alguns relatam mais de 40%, outros menos) – por causa de diferentes métodos de avaliação.
- Há variação quanto à idade dos participantes (crianças pequenas, adolescentes, adultos) e ao nível de deficiência intelectual, o que influencia os achados.
- Os instrumentos de diagnóstico são diferentes entre estudos (alguns usam entrevistas completas para autismo; outros usam escalas de comportamento), o que pode levar a resultados diferentes.
- Nem todos os estudos fizeram análise genética fina para correlacionar qual gene da SCdL está afetado (por exemplo, NIPBL vs SMC1A), o que limita a comparação.
Insights para profissionais de saúde
- Profissionais que acompanham pessoas com SCdL podem incluir triagem para autismo como parte do cuidado rotineiro.
- É importante usar instrumentos padronizados, mas também adaptados para essa população específica, considerando que muitos traços autísticos em SCdL têm particularidades.
- Recomenda-se avaliar a adaptação funcional (habilidades de vida) para entender o impacto dos comportamentos repetitivos e da auto-lesão.
- Genotipagem (testes genéticos para identificar qual gene da SCdL está alterado) pode ser muito útil para orientar prognóstico e intervenção.
- Planos de intervenção devem ser multidisciplinares (fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, psiquiatria): abordar comunicação, rotina, segurança e bem-estar emocional.
Infomações gerais para nós pais e responsáveis
- Observar sinais de autismo mesmo quando já existe um diagnóstico de SCdL: dificuldades de linguagem, comportamentos rígidos, repetitivos ou agressivos.
- Pedir avaliação diagnóstica formal para autismo, mesmo que não tenha sido feita antes.
- Considerem pedir exames genéticos atualizados (se ainda não foram feitos) para entender melhor a causa molecular da SCdL e como isso pode se relacionar com os comportamentos.
- Buscar intervenção o mais cedo possível: terapia da fala, treinamento de rotina, suporte emocional e atividades estruturadas podem fazer grande diferença.
- Atenção especial a auto-lesão ou comportamentos que podem colocar a criança em risco: essas questões merecem acompanhamento e possível intervenção especializada.
A ciência mostra de forma consistente que traços autísticos são frequentes na Síndrome de Cornélia de Lange, mas cada pessoa é única: o perfil comportamental autista associado à SCdL pode ter características muito específicas. Com os avanços genéticos recentes, tornou-se possível investigar a relação entre os genes da síndrome e os comportamentos, o que abre caminho para diagnósticos mais precisos e intervenções mais eficazes. Para as famílias, isso representa não apenas respostas mais claras, mas também a possibilidade de um acompanhamento mais direcionado e cuidadoso. A jornada de investigação continua: a cada novo estudo, aprendemos mais, isso fortalece a esperança de melhor apoio para crianças como o Jordano.
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